É gente ou avatar?
Tem acontecido muito: eu vejo um conteúdo de alguma influenciadora ou influenciador e penso: tá virando avatar. Vem aqui pensar comigo.
Meu trabalho exige que eu pesquise muito (um tanto mais do que eu gostaria, devo admitir) o ambiente digital, mais especificamente as redes sociais. Fico cada vez mais surpresa com o que tenho chamado de “avatarização das pessoas”.
A ideia é simples: para ter sucesso nas redes, influenciadores ligados ao mundo da moda e da beleza estão se especializando em virar personagens. Ferramentas para isso não faltam, sabemos: a maquiagem, os looks, o filtro, o app etc. Além disso, o avanço dos procedimentos dermatológicos, dentários e capilares, o nascimento de marcas de moda que atendem a uma estética de redes sociais e a inovação sem fim nas possibilidades de manipulação de imagens digitais têm promovido resultados curiosos. Olha só:
Primeiro: logo no início da pesquisa caí na Newsletter Floatvibes, que tem um texto ótimo sobre a plasticidade dos dias de hoje (Hi, Barbie!). Ele vai além da minha análise basiquinha, porque André Alves e Lucas Liedke são psicanalistas, psicólogos, pesquisadores, escritores e tudo o que precisam ser pra entender e explicar os motivos dessa loucura toda. Por aqui, são percepções mais pessoais. De qualquer maneira, foi lá que eu li pela primeira vez o acrônimo NPC. Segue o fio:
NPC. Já ouviu falar sobre isso? A sigla vem de Non-Player Characters, os personagens de games que não são jogadores, os coadjuvantes dos jogos digitais. Eles aparecem na tela, têm funções, mas não são “jogáveis” (o New York times fez um minidocumentário genial sobre essa turma).
Bom, fato é que o povo das redes começou a imitar esses personagens, seus movimentos artificiais e falas meio repetitivas. E isso virou uma trend. E a trend viralizou. E teve gente que viralizou junto.
Entra aqui para conhecer a Pinkydoll, maior referência na área - mas tem que entrar, porque vai ser difícil eu te explicar com palavras o que você vai ver por lá. Milhões e milhões de pessoas assistem a lives de horas e horas desses NPCs da vida “real” (real?), muitas vezes pagando por elas. Pinkydoll, por exemplo, tem quase 6 milhões de curtidas no seu perfil e, com bordões como "yes, yes, yes" e "ice cream so good", chega a faturar até US$ 7 mil por dia, segundo a Vice. Eu, aqui da realidade real do meu escritório, fico tentando entender o fenômeno.
Quer um #NúmeroDePrata? A hashtag NPC tem mais de 10 bilhões de views no TikTok – isso inclui os NPCs “reais” (tipo a Pinky) + pessoas comentando sobre eles + milhões de outras pessoas imitando e tirando sarro de tudo isso. Parece que agora o povo até usa NPC para se referir a quem não tem opinião, que só repete o que outras pessoas falam.
Eu poderia escrever horas a fio sobre isso, é uma loucura interessantíssima, bem do tipo que eu gosto. Mas preciso mudar de assunto. Então, pra saber mais, vai aqui, ó:
Uma outra, do Washington Post, com uma boa explicação também;
E essa, do Jing Daily (veículo chinês sobre o mercado de luxo para seguir já), que me ensinou a expressão que justifica toda minha pesquisa: “mercado de humanos virtuais”. E que ele vai chegar a US$ 440.3 bilhões em 2031. #VaiVendo…
Importante dizer que essa ideia de avatarização não tem só a ver com extremos como NPCs. Foi vendo os looks de street style da semana de moda de Copenhagen (que tá virando referência entre as fashion weeks internacionais), aliás, que comecei a pensar nisso. Cada vez menos conectados às tendências de passarelas – e, portanto, cada vez menos pasteurizados -, o estilo das ruas nunca foi tão rico visualmente. Dos pés aos últimos fios de cabelos, os fashionistas não dão ponto sem nó: tudo ali é milimetricamente pensado, produzido e, claro, fotografado e postado. “Mas as pessoas se vestem assim de verdade?”, perguntaria minha mãe. E esse é o ponto: “de verdade”, aqui, significa exatamente o que? Nunca a expressão “vestiu o personagem” fez tanto sentido.
Muito já se falou sobre “dismorfia do Instagram”, ou “filter dismorphia”, condição que afeta a percepção das pessoas sobre o próprio corpo – a criatura é impactada por uma enxurrada de imagens (de outros e de si mesma) mexidas com filtros e afins, se olha no espelho, se depara com a realidade e odeia o que vê. Não vou me estender muito aqui, mas, se nunca ouviu falar sobre isso, vale se aprofundar, porque muito dos avatares nascem aí - e, quando não nascem, podem ter um impacto bastante negativos em seus seguidores, principalmente os mais jovens.
Recentemente fiz um post sobre como está ficando cada vez mais difícil saber se as imagens de moda (e de roupas) que vemos online são reais ou geradas por inteligência artificial (o Papa tá aí pra provar a teoria). Os vídeos com deep fakes também estão cada vez mais perfeitos. Muito em breve vai ficar difícil saber se um influenciador é real ou virtual - aliás, já tem muita gente por aí namorando firme inteligências artificiais), tá?
Para concluir: quando eu morava em Londres, no fim dos anos 1990, a cultura clubber bombando, tals, a onda do body modification estava alta. Mas quem fazia isso eram pessoas que estavam à margem, que usavam esses recursos – piercings, inserção de metais no corpo para fazer chifres, mudar a forma do rosto, dividir a língua em dois, etc – para fincar os pés na diferenciação, fugir do que era considerado “normal”.
Hoje, “body modifications” são feitas em consultórios dermatológicos, em cadeiras de dentistas – põe boca, arruma os dentes, sobe o nariz, aumenta o queixo –, e ganhou nome bonito: harmonização facial. Isso é só mais um recurso para isso que chamo de avatarização das pessoas. Não vou entrar em preferências estéticas - até porque, como falei ali em cima, a ideia de virar um personagem não está somente ligada às modificações corporais. Dá pra virar avatar de si mesmo sem procedimento algum.
O que me interessa é observar esses comportamentos, ver o mundo mudar. E tem mudado rápido, não?
Maria.
@mariaprata
A notícia sobre um álcool que não dá ressaca, que dei nesse Pílulas, foi uma das mais comentadas nas últimas semanas e dividiu opiniões. A história ficou ainda mais interessante quando Pedro me contou que o diretor científico do GABA Labs, laboratório responsável pelo produto revolucionário, é o britânico David Nutt. Psiquiatra e neuropsicofarmacologista, ele é um dos maiores pesquisadores e divulgadores dos efeitos das drogas no cérebro humano, e grande defensor do uso terapêutico de psicodélicos.
Nutt foi chefe da política de entorpecentes (ACMD) do Reino Unido até 2009, quando perdeu o posto após afirmar em um estudo que o álcool e o tabaco são mais prejudiciais que muitas drogas ilegais, como o LSD, o ecstasy e a maconha – reza a lenda que ele disse a frase “andar a cavalo é mais perigoso do que tomar ácido”.
Quem quiser se aprofundar no mundo psicodélico de David Nutt, recomendo a leitura do seu livro "Drugs - Without the Hot Air", e tenho na minha lista o recém-lançado "Psychedelics: The Revolutionary Drugs That Could Change Your Life".
Máquina que lê pensamentos? Temos.
Cientistas norte-americanos desenvolveram o primeiro sabão à base de plástico do mundo
Cerca de 12 milhões de norte-americanos terão que se reinventar profissionalmente até 2030 (culpa das inteligências artificiais).
Por outro lado, tem empresa disposta a pagar mais a profissionais que dominem as IAs.
As inteligências artificiais já estão se intrometendo também na paquera!
Microsoft Teams e Maybelline lançam filtro para te deixar impecável nas reuniões virtuais.
Swarovski comemora os 100 anos da Disney com sapatinho esculpido em cristal holográfico.
Em mais um capítulo desse assunto sério (e urgente) que é o vício nas telas, a UNESCO recomenda que os celulares sejam banidos das escolas do mundo todo. Ao mesmo tempo, a China entra na história com um "modo menor de idade" para limitar o tempo de conexão dos jovens. Leia aqui.
Você sabia que 90% de todo o material reciclável produzido no país passa pelas mãos dos catadores e carroceiros, mas 75% dos ganhos do setor vão para a indústria? Nesse Brasil que Dá Certo eu falo sobre o Estação Preço de Fábrica, projeto da startup Green Mining que pretende mudar esse cenário.
US$ 177 bilhões foi o que o mercado de second hand movimentou no mundo todo em 2022 - e vem muito mais por aí! Aqui eu falo sobre as grandes marcas e varejistas que já entraram nessa onda, e sobre suas estratégias para se adequarem ao novo cenário e às demandas de uma nova geração de consumidores.
Amo que você tem uma news agora - você aqui que essa comunicação está entre as tendências de um futuro próximo? Acho multo bom (porém curioso) esse retorno ao email. Beijos e sou fãaa ♥️
Que News!!!! 👏🏼👏🏼👏🏼 Agora preciso de tempo pra entrar em todos esses links interessantíssimos!